terça-feira, 10 de junho de 2008

Postais antigos- Tomaz de Figueiredo



"Morro de amor pelo meu pátrio Minho, pela vila dos Arcos, pela Casa de Cazares, onde a minha infância dorme, onde esperei feliz envelhecer, escrevendo livros, sempre livros, onde cuidei morrer, e, como Goethe, pedindo luz e luz, sempre mais luz, de janelas rasgadas sobre o Vez, sobre a fonte que jorra da carranca, sobre as minhas amadas laranjeiras.
Fausto, morro de amor pelos meus livros, pelos romances que pensei fugidos, perdidos e sumidos..." («Viagens no Meu Reino» )

Dele diz João Bigotte Chorão: "Não era Tomaz de Figueiredo, como Raul Machado, um gramático , um erudito, um especialista- era um escritor, um cavador de palavras, um servidor do idioma. O que lhe faltaria em ciência académica sobejava-lhe em intuição e amor...".
No «Dicionário de Literatura» acrescenta David Mourão Ferreira: "Prodigioso evocador do passado, em verso e em prosa, grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo consegue aliar a muitos rasgos temperamentais de raiz romântica uma disciplina clássica (...), integra-se numa tradição tipicamente portuguesa da qual terá sido Camilo, antes dele, o mais alto expoente"

E ao reler «Coração Arquivista» de António Manuel Couto Viana, vejo, com o cuidado que me faltou quando o li pela primeira vez, este excerto: " Ao lê-lo , ( «A Toca do Lobo» ) senti que tinha encontrado o romancista que melhor se identificava com a minha sensibilidade; esse que eu gostaria de ser, se tivesse qualidades de ficcionista. Aliás, aqueles climas, aquelas personagens, conhecia-os eu de sempre; encontrava-os por toda a Ribeira-Lima, em minha casa ou nas que frequentava, nas ruas e nas feiras ou quintas de lavoura e recreio- exactos, vivos, com a nobreza e o pitoresco que o Tomaz poderosamente retratava (...). Também não escapava à lupa bem focada do discípulo de Camilo o português de certos discursos de eminências políticas".

É este quase conterrâneo- nasceu em Braga a 6 de Julho de 1902, embora bem cedo tivesse ido viver para Arcos de Valdevez- que até há bem pouco tempo desconhecia; quando mo apresentaram, aconselharam-me a começar a leitura da sua obra por «A Toca do Lobo»...; descobri então um escritor de mão-cheia, a quem, ainda nas palavras de Bigotte Chorão, " o instinto da língua, por um lado, e o seu trato com o falar do povo e a obra dos clássicos, por outro, deram um raro conhecimento do português, nas suas expressões mais populares e mais eruditas".

3 comentários:

O Réprobo disse...

A toca do lobo é excelente, mas toda a ficção e até a poesia acho boa. Lamento ter começado o meu contacto com a obra pelo «Dicionário Falado», que, nos meus 17 anos, não me cativou. E retardou contacto maior com este Escritor Impar.
Beijo, Cristina

Cristina Ribeiro disse...

Andei bem em seguir o conselho de Miguel Freitas da Costa, do blogue «O Futuro Presente»...
Beijo, Paulo

Anónimo disse...

Gosto tanto de Arcos de Valdevez e já lá não vou há tantos anos.

Tomaz de Figueiredo, era tio por afinidade, do meu ex, por isso fala de locais que conheço bem.

beijinho