"Guimarães, 14 de Junho de 1934.
Guimarães, a Terra-Mãe da Nacionalidade Portuguesa está, no próximo Domingo 17, em festa solene. Vai o coração vimaranense bater em uníssono sentir, a alma enlevada da Pátria
dum só parecer,
um só rosto e uma fé,
de- antes quebrar que torcer-
ao perpetuar, em romaria de amor e saudade, a memória querida de João Franco, que defendeu, num combate sem tréguas, a bandeira da Virgem da Oliveira, a bandeira sagrada do Concelho de Guimarães.
Esse monumento será o grito da nossa gratidão, do nosso reconhecimento(...) "
Nascido na freguesia de Alcaide, no concelho do Fundão, João Franco viria a participar activamente na política portuguesa pela mão dos eleitores deste círculo, em 1884, por indicação de Fontes Pereira de Melo- não obstante esta alta recomendação, baseada no seu promissor talento, ela começou por ser mal recebida: tratava-se de uma pessoa desconhecida, e nada fazia crer que iria mudar a política de ostracismo a que o concelho fora remetido pelo parlamento...
Esta primeira impressão, porém, depressa daria lugar a renovadas esperanças, quando o deputado começou a fazer ouvir a sua voz lúcida, corajosa e a denotar uma grande iniciativa, como quando, por exemplo, reclamou, e obteve- através da intervenção de Fontes- a criação da «Escola Industrial Francisco de Holanda».
E muitas outras foram as acções por ele protagonizadas em defesa da terra que o elegeu, como aquela em que, face à oposição à maior autonomia do concelho, e mesmo após Fontes Pereira de Melo, que sempre se mostrara solidário com esta pretensão, lhe ter sugerido, a fim de acalmar os ânimos vindos da Oposição, retirasse tal projecto, João Franco se mostrou firme , respondendo- " Não, não retiro, são as ordens que trouxe dos meus eleitores, quando as fui receber a Guimarães" , ao que Fontes replicou, comovido, - "Sede sempre um homem de bem"...
Justifica-se, pois, plenamente, que o povo de Guimarães se lhe tenha referido nos seguintes termos: "Mas se amar a justiça é qu'rer a liberdade,
Conquista para o homem eterno galardão,
O culto que alcançaste aqui, nesta cidade,
Jamais acabará; impõe-no a gratidão."
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10 comentários:
Tenho aí uma bela fotografia da homenagem que Guimarães lhe fez, perto da morte, em 1931, num «Arquivo Nacional», do Rocha Martins.
Beijo, Querida Cristina
Muito do que Guimarães conquistou a ele o deve; Justificaram-se, pois, todas as homenagens, assim como, para sempre, o nome deste Largo João Franco.
Beijo, Paulo
O monumento no centro do Largo... Depois enconstaram-no a um canto, escondido por umas árvores. Embora ainda se mantenha o nome, até os próprios moradores lhe chamam "Largo da Misericórdia".
Mas um Largo monumental, lindíssimo, e mal aproveitado e conhecido. Com o palácio dos Coutos, que já foi a morada do Arcebispo, hoje Tribunal da Relação, a casa inacabada dos Carvalhos, que se vê na fotografia, a igreja e Santa Casa da Misericórdia da cidade, uma bela fonte mandada erigir por D. João VI e a controversa estátua do nosso Rei Primeiro, por José Cutileiro.
Tiago, aquele Largo é lindo!
Quando há dias andei por lá a tirar fotografias ( optei por esta, mais antiga, por achar mais digna a localização- não tem cabimento remeter para um canto a memória de um homem a quem tanto devemos), reparei com mais cuidado nas belas casas que por lá há...
E já disse à minha irmã que nos próximos fins-de-semana vai ter uma hóspede: as noites no Centro Histórico!...
Quem sabe, então, Cristina, se não nos cruzaremos nessas belas ruas de Guimarães. Difícil será reconhecermo-nos.
De facto, muito Guimarães deve a João Franco. O seu amigo Amaro das Neves fez, recentemente, uma colecta de vários artigos de jornal referentes à crise brácaro-vimaranense, na qual este deputado tomou parte.
Ainda assim, trata-se de um dos proscritos pelo revisionismo histórico da 1ª e 3ª Repúblicas.
Esse foi um dos muitos pontos em que tomou a peito a defesa daqueles que o elegeram: os senhores que o votaram ao ostracismo deviam pôr a mão na consciência e cobrir-se de vergonha.
Quiçá... :)
Curiosa a coincidência do círculo eleitoral que elegeu João Franco e mais tarde o Doutor António de Oliveira Salazar, em 1921. Da segunda eleição não resultou, para a cidade, tanto benefício como da primeira, pois Salazar só foi a S. Bento participar nos trabalhos uma única vez, segundo reza a lenda.
... enquanto que João Franco se entregou de alma e coração...; depois de ler o que ele fez pelo concelho, sinto eu mesma vergonha pela ignorância que persiste à volta dele, que só pode levar à ingratidão.
Sem aqueles dois minutos no 1º de Fevereiro, o Franco talvez nos tivesse proporcionado um século XX bem diferente daquele que o Costa e o Bernardino nos ofereceram.
Acredito piamente que sim, Nuno.
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