terça-feira, 3 de junho de 2008

João Franco, deputado pelo círculo de Guimarães

"Guimarães, 14 de Junho de 1934.

Guimarães, a Terra-Mãe da Nacionalidade Portuguesa está, no próximo Domingo 17, em festa solene. Vai o coração vimaranense bater em uníssono sentir, a alma enlevada da Pátria
dum só parecer,
um só rosto e uma fé,
de- antes quebrar que torcer-
ao perpetuar, em romaria de amor e saudade, a memória querida de João Franco, que defendeu, num combate sem tréguas, a bandeira da Virgem da Oliveira, a bandeira sagrada do Concelho de Guimarães.
Esse monumento será o grito da nossa gratidão, do nosso reconhecimento(...) "


Nascido na freguesia de Alcaide, no concelho do Fundão, João Franco viria a participar activamente na política portuguesa pela mão dos eleitores deste círculo, em 1884, por indicação de Fontes Pereira de Melo- não obstante esta alta recomendação, baseada no seu promissor talento, ela começou por ser mal recebida: tratava-se de uma pessoa desconhecida, e nada fazia crer que iria mudar a política de ostracismo a que o concelho fora remetido pelo parlamento...
Esta primeira impressão, porém, depressa daria lugar a renovadas esperanças, quando o deputado começou a fazer ouvir a sua voz lúcida, corajosa e a denotar uma grande iniciativa, como quando, por exemplo, reclamou, e obteve- através da intervenção de Fontes- a criação da «Escola Industrial Francisco de Holanda».
E muitas outras foram as acções por ele protagonizadas em defesa da terra que o elegeu, como aquela em que, face à oposição à maior autonomia do concelho, e mesmo após Fontes Pereira de Melo, que sempre se mostrara solidário com esta pretensão, lhe ter sugerido, a fim de acalmar os ânimos vindos da Oposição, retirasse tal projecto, João Franco se mostrou firme , respondendo- " Não, não retiro, são as ordens que trouxe dos meus eleitores, quando as fui receber a Guimarães" , ao que Fontes replicou, comovido, - "Sede sempre um homem de bem"...


Justifica-se, pois, plenamente, que o povo de Guimarães se lhe tenha referido nos seguintes termos: "Mas se amar a justiça é qu'rer a liberdade,
Conquista para o homem eterno galardão,
O culto que alcançaste aqui, nesta cidade,
Jamais acabará; impõe-no a gratidão."

10 comentários:

O Réprobo disse...

Tenho aí uma bela fotografia da homenagem que Guimarães lhe fez, perto da morte, em 1931, num «Arquivo Nacional», do Rocha Martins.
Beijo, Querida Cristina

Cristina Ribeiro disse...

Muito do que Guimarães conquistou a ele o deve; Justificaram-se, pois, todas as homenagens, assim como, para sempre, o nome deste Largo João Franco.
Beijo, Paulo

Tiago Laranjeiro disse...

O monumento no centro do Largo... Depois enconstaram-no a um canto, escondido por umas árvores. Embora ainda se mantenha o nome, até os próprios moradores lhe chamam "Largo da Misericórdia".

Mas um Largo monumental, lindíssimo, e mal aproveitado e conhecido. Com o palácio dos Coutos, que já foi a morada do Arcebispo, hoje Tribunal da Relação, a casa inacabada dos Carvalhos, que se vê na fotografia, a igreja e Santa Casa da Misericórdia da cidade, uma bela fonte mandada erigir por D. João VI e a controversa estátua do nosso Rei Primeiro, por José Cutileiro.

cristina ribeiro disse...

Tiago, aquele Largo é lindo!
Quando há dias andei por lá a tirar fotografias ( optei por esta, mais antiga, por achar mais digna a localização- não tem cabimento remeter para um canto a memória de um homem a quem tanto devemos), reparei com mais cuidado nas belas casas que por lá há...

E já disse à minha irmã que nos próximos fins-de-semana vai ter uma hóspede: as noites no Centro Histórico!...

Tiago Laranjeiro disse...

Quem sabe, então, Cristina, se não nos cruzaremos nessas belas ruas de Guimarães. Difícil será reconhecermo-nos.

De facto, muito Guimarães deve a João Franco. O seu amigo Amaro das Neves fez, recentemente, uma colecta de vários artigos de jornal referentes à crise brácaro-vimaranense, na qual este deputado tomou parte.

Ainda assim, trata-se de um dos proscritos pelo revisionismo histórico da 1ª e 3ª Repúblicas.

cristina ribeiro disse...

Esse foi um dos muitos pontos em que tomou a peito a defesa daqueles que o elegeram: os senhores que o votaram ao ostracismo deviam pôr a mão na consciência e cobrir-se de vergonha.

Quiçá... :)

Tiago Laranjeiro disse...

Curiosa a coincidência do círculo eleitoral que elegeu João Franco e mais tarde o Doutor António de Oliveira Salazar, em 1921. Da segunda eleição não resultou, para a cidade, tanto benefício como da primeira, pois Salazar só foi a S. Bento participar nos trabalhos uma única vez, segundo reza a lenda.

cristina ribeiro disse...

... enquanto que João Franco se entregou de alma e coração...; depois de ler o que ele fez pelo concelho, sinto eu mesma vergonha pela ignorância que persiste à volta dele, que só pode levar à ingratidão.

Nuno Castelo-Branco disse...

Sem aqueles dois minutos no 1º de Fevereiro, o Franco talvez nos tivesse proporcionado um século XX bem diferente daquele que o Costa e o Bernardino nos ofereceram.

cristina ribeiro disse...

Acredito piamente que sim, Nuno.