segunda-feira, 9 de junho de 2008

O « enriar» do linho contado pela minha mãe

Era por esta altura do ano, quando o linho já tinha sido colhido, que, com as amigas, que, como ela, rondavam os doze anos, fugia à minha avó, e às tarefas de casa, para se juntar ao cortejo festivo que levava as plantas de flor azul ao rio. Todo um programa!

Lê-se n«Os Mesteres de Guimarães»: " Vão os linhos e mais linheiras para os aguadoiros: nas pôças, nos tãiques, nos rios.
No rio Ave, afluente que passa em Brito, há até o lugar do «Enterradouro»,- porquanto entre nós ninguém diz " enraiar", mas " enterrar " o linho. Quando o carrega é a preceito, vai o jugo dos bois enfeitado e a carrada tem seu ar de festa. No alto, por sobre os molhos do linho, ergue-se um ramo de oliveira, com flores, que é obra da moçarada de saias. Sim, porque as raparigas também vão à enterra do linho.
À dianteira, vai a tocata, que está abaixo da «festada», pois bastam-lhe poucos instrumentos: um tamboril, os ferrinhos, uma viola e armónico" (e cavaquinho, acrescenta a minha mãe). (...)" É de ver que, havendo viola e mulheres, há cantadoria e danças(...)
Feita com as enxadas a cama ao linho, na areia lavada do rio, aí o enterram."

Mas a festa continuava quinze dias depois, quando se "erguia" o linho para que ele secasse " à torreira do sol"...

15 comentários:

ana v. disse...

Que bonita, a sua mãe!

Cristina Ribeiro disse...

Obrigada, Ana.

O Réprobo disse...

Belíssima! E a Tradição, fantástica, no aproveitamento do que poderia ser uma tarefa, transferindo-a para a esfera do Lúdico. Um saber completamente perdido nas Metrópoles, que se separam as águas de uma forma obsessiva e deprimente.
Beijo, Cristina

Anónimo disse...

Isso é que era alegria no trabalho, Cristina. :)

Cristina Ribeiro disse...

Obrigada, Paulo.
Quando a oiço, sinto nostalgia de um tempo que não vivi...
Beijo

Cristina Ribeiro disse...

Mike, a minha mãe tem razão quando diz que não nos sabemos divertir :)

Anónimo disse...

Ó se tem, Cristina. :)

Luísa A. disse...

Olhando para esse tempo dos nossos pais, querida Cristina, nomeadamente para o que dele nos transmite o melhor cinema português, tudo parece pretexto para alegria e festa, até o trabalho. Como diz, e tão bem, «sinto nostalgia de um tempo que não vivi…» :-)

Cristina Ribeiro disse...

É isso mesmo, Luísa. Acho que aí perdemos tanto...

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

Linda, a sua mãe, lindo este postal tão completo!

um beijo por ele

Cristina Ribeiro disse...

Obrigada, Júlia.
Beijo

Anónimo disse...

Ia dizer o mesmo que os outros: muito bela, a sua Mãe. Só insisto na repetição por imaginar que lhe apraz a insistência.
Um beijinho.

Anónimo disse...

Esta minha avó é linda, bondosa e carinhosa... Quando ela me faz aquelas "varrelas"... E aqueles bifes,... Sao uma delicia!
Grande AVO!!!

cristina ribeiro disse...

muito obrigada, Rosarinho
Claro que é sempre um miminho.

Cristina Ribeiro disse...

Mostrei o teu comentário à avó, Zé João, e claro que ela ficou toda babada :)
Beijinhos