Saudades de uma rainha e de um príncipe
lembrou-me que tinha de falar da Mulher d'armas que sempre foi a minha mãe.Quando solteira, e apesar de ter feito desse um tempo que gosta de recordar, sempre com muita saudade, teve uma vida difícil, como segunda rapariga num rancho de irmãos, quase todos rapazes mais velhos: cedo teve de se fazer adulta, conservando no entanto a frescura e alegria com que sempre enfrentou as adversidades; morando a poucos metros da Escola Primária, não lhe foi permitido ir além da 3ªClasse, porque o trabalho que tinha em casa não deixou.
Casada, bem depressa teve de tomar conta de uma família que se fez numerosa; era uma época em que por cá não se falava ainda em infantários- só ao sétimo filho pôde contar com essa ajuda.
E ao trabalho de ser mãe de tão grande prole- conta que quando queria levar-nos a algum lado, uma vez acabado de preparar o último, tinha de recomeçar, porque o primeiro se sujara entretanto-, teve ainda de juntar o seu esforço ao do meu pai para nos garantir uma vida confortável: era uma época em que, acabado o serviço militar, o meu pai se aventurou a "estabelecer-se por conta própria", e, mais uma vez, foi fundamental o trabalho feminino: no Inverno, por exemplo, levantava-se muito cedo para fazer o café que iria aquecer os empregados, aos quais se juntava a seguir, enquanto os filhos dormíam...
Agora, numa altura em que há muito tempo somos todos adultos, continua a mãe galinha, que não adormece sem primeiro fazer "a ronda" telefónica.
Dona de uma energia invejável, aos setenta e cinco anos ninguém lhe fale em reforma; continua a ser o elemento fundamental na fábrica que ajudou a erguer!
Além de que é um exemplo para todos nós: em Dezembro foi-lhe detectado um problema de saúde que a levou a uma cirurgia muito delicada- pois passado um mês lá estava no seu posto de trabalho...
18 comentários:
fiquei parada, Cristina!...Admiro muito estas maezonas, com colo grande e energia para dar e vender. Admiro as pessoas que não têm tempo para se queixar.
A minha mãe era uma pessoa encantadora, maravilhosa , com muitas qualidades, mas primeiro estava ela e só depois os outros.
Esse facto deixou mazelas graves na minha irmã.
beijinho
Também eu admiro, Júlia.
E, como digo, fico espantada com a energia que tem, física e espiritual, de que eu não tenho nem metade...
Beijinho
estranho, isso, não é?
sabe, a minha irmã diz muitas vezes que a mãe dela fui eu...sempre tive uma saude fisica muito frágil mas mentalmente isso fortaleceu-me.
Hoje, acho que até isso estóu a perder.
continuo com problemas com a ligação na net..que droga!!
Acho que vou comprar um router, pois eles dizem que é do cabo que me liga ao portátil.
Mãe Coragem??? Cristina, vai ter que pensar noutro nome, que coragem é pouco, muito pouco. Vá menina, ficamos à espera. :)
Mãe Coragem???!!!???
Nem sei que diga, Mike...; enquanto escrevia, relembrava momentos que recordo da infância e comovi-me...
Filha-galinha... :) :)
Um sorriso entre lágrimas, mas felizes, Mike :)
Querida Cristina, Bela Homenagem!
Por tudo o que nos conta e pela Filha que conheço, não posso deixar de admirar a Senhora Sua Mãe.
Espero, do fundo do coração, que a reacção descrita ao momento de menor saúde encontre as raízes na cura absoluta, que não numa sublime capacidade de sofrer.
Beijos.
PS:se hoje tiver sentido as orelhas a arder, foi só bem.
:-)
Fez-me recordar a minha avó, querida Cristina, que foi a minha verdadeira mãe.
Nascida em 1910, cheia de energia apesar da saúde frágil, com uma força mental invejável, cozinheira de cinco estrelas, que me quis ensinar a ser a melhor dona de casa da galáxia e abanava a cabeça, resignada, dizendo: sempre a ler, sempre a ler; ó que vais er desta miúda!?
(risos)
Só com a 4.ª classe, escrevia como muitos "doutores" não escrevem e lia muito; lúcida até ao fim da vida (faleceu, fez ante-ontem 4 anos) foi uma das pessoas mais importante da minha vida.
Um beijinho para si.
:-)
Muito obrigada, Paulo.
Ontem mesmo foi fazer um exame ao IPO, ao pulmão, e esperamos muito que tudo esteja bem.
Beijo
Pessoas de fibra, querida Fugidia!
Beijinho
Esta homenagem à sua mãe - tão bonita! - lembrou-me a minha, que perdi há um ano. Era uma mulher de fibra, como a sua. Nessa altura escrevi um texto para ela (que nós, filhos, lemos no enterro) e fiquei de repente com vontade de voltar a postá-lo. Culpa sua, que me comoveu e me deixou de lágrima no olho...
Grande beijinho, e que tudo corra bem com a saúde da sua mãe.
Querida Cristina .. que homenagem! Mãe Coragem sem dúvida, com letra grande tal como é a Sua Alma que pelas linhas mimosas e comoventes da filha (babada?) :) ficamos a conhecer.
Um beijinho .. comovido. *
Obrigada, Ana!
Beijinho
Eu é que lhe estou grata pela simpatia, querida Once!
Beijinho
O que acho admirável e comovente, querida Cristina, é a capacidade de abnegação que as nossas mães e avós pareciam ter (em geral). É certo que a prática era de dedicação exclusiva, das «mães-domésticas», mas havia, ainda assim, outro nível de generosidade. Hoje, as mães não são menos amigas da sua família, mas não são capazes da mesma entrega, também preocupadas – e legitimamente – com a sua realização pessoal e profissional. E a consciência dessa diferença (ou desse vago egoísmo) confere ainda maior nobreza e romantismo à imagem das mulheres do nosso passado.
Querida Luísa, quando a oiço a si, ou por exemplo, a Once falar nas vossas princesas, confirmo que a essência é a mesma...
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